terça-feira, 4 de dezembro de 2012

SUSPENSÃO SUMÁRIA

"Acho que está havendo uma revolução na 6ª série e me parece que vocês são os cabeças!". Foi assim que o diretor iniciou uma conversa comigo e alguns alunos, antes de decretar a sentença: dez dias de suspensão.
Isso aconteceu no distante ano de 1990. Eu era um garoto tímido. Nunca gostei de bagunça na sala de aula, apesar de confessar que adorava quando os colegas pegavam no pé de um professor chato ou quando eles faziam coisas pouco ortodoxas durante a aula.
No dia dos fatos, as coisas corriam normalmente. Na hora do intervalo, um amigo e eu tivemos a brilhante ideia de voltar à sala e colocar uns bilhetinhos de amor no cadernos das meninas - disfarçadamente, claro! De repente, entram cerca de quatro colegas correndo na sala, num tipo de brigadeira (briga + brincadeira) que resultou em duas cadeiras quebradas e um barulho tal qual o estampido de uma bomba atômica. O ruído foi suficiente para despertar o faro investigativo do Inspetor da escola. Ele, por sua vez, acionou o líder da turma, dando-lhe a tarefa de dizer os alunos que estavam dentro da sala na hora do ocorrido. Sem hesitar, o alcaguete de marca maior levou a relação ao Inspetor que a repassou ao diretor. 
O diretor era um homem alto, muito alto, com uma protuberância no rosto diretamente proporcional à sua altura - que vamos chamar de nariz - e magro. Ostentava um bigode cuja função era impor respeito aos alunos e às vezes ficar sujo de sopa. Dogmático, sempre dava a palavra final em todos os assuntos e, em muitos casos, nem deixava os outros falarem.
Na sua sala, não foi diferente. Ninguém teve a oportunidade de falar. O direito do contraditório e da ampla defesa, assegurados na Constituição Federal, não nos foi garantido. Os membros dos Direitos Humanos não deram a mínima importância para a nossa situação. 
E depois da homilia, cheia de frases de efeito e ameaças, ele proferiu a sentença, a qual já é conhecida dos caros leitores. No primeiro momento, eu fiquei destruído. Afinal, eu nunca havia sido admoestado sequer por um professor. Mas depois, eu relaxei. Aproveitei aquelas duas semanas de férias forçadas para jogar futebol na rua e brincar de Polícia e Ladrão, coisas que até então só havia feito durante o dia.

Um abraço