terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Era para ser uma simples apresentação de trabalho para a disciplina de Oral Expression. O professor havia pedido à turma que fizesse um Speaking - de 10 a 15 minutos - com tema livre, desde que fosse algo interessante, e nós tivemos cerca de uma semana para preparar o trabalho. Eu andava meio cansado, com aquela mania de deixar para o dia seguinte aquilo que você deve fazer hoje. E o tempo passou.
Quando pensei que não, já era a véspera da apresentação. Comecei a procurar algo interessante e encontrei um texto sobre Grafologia (estudo pseudocientífico que tem como base a análise da escrita para inferir sobre traços da personalidade das pessoas). Era isso!
Li o texto algumas vezes, pesquisei o assunto e estava com a apresentação na cabeça. Mas faltava alguma coisa. Faltava um diferencial. Faltava algo que prendesse a atenção da plateia.
Na hora da minha apresentação, comecei a falar sobre a grafologia com propriedade de sorte que pedi a um voluntário para escrever algo no quadro. Feito isso, fiz uma análise - superficial, é verdade - da escrita da menina, atraindo a curiosidade e atenção de todos.
Entre os espectadores, estava meu melhor amigo. Não era um melhor amigo qualquer. Era um sujeito baixinho, marrento, implicante, ranzinza, ensimesmado, fã de Morrissey e, ainda por cima, torcedor do Vasco. Era uma espécie de antagonista, de inimigo íntimo, que disputava comigo as melhores notas. Quando eu olhava em sua direção, ele fazia macaquices, tentando me desestabilizar. "Eu te pego, seu ...", eu pensava.
De repente, ele se levanta, dizendo com um tom desafiador: "Quero que você analise a minha escrita". As letras dele eram muito bonitas, quase desenhadas. Lembravam até letras de mulheres. "Pois não", respondi, "escreva algo na lousa". Ele escreveu um trecho de uma música do Morrissey.
Transmitindo seriedade, comecei a análise: "A sua escrita, companheiro, revela que você é um cara muito organizado, metódico, detalhista. A letra inicial maior fornece a impressão de que você é muito perfeccionista. Mas o detalhe que mais me chamou a atenção são aquelas letras caídas para a esquerda. Isso revela uma forte tendência ao homossexualismo!". Quando olhei, todos estavam rindo incontrolavelmente, inclusive o professor. O meu amigo era um misto de raiva com vergonha. Havia sido um golpe duro! Em meio às gargalhadas e comentários infames, eu precisei intervir:
"Calma, amigo! É apenas uma tendência. Não disse que você é gay! E mesmo que você seja, qual é o problema?"
Depois disso, as coisas voltaram ao normal. O professor elogiou a apresentação, solicitando, inclusive, que eu analisasse sua escrita. E o meu amigo passou o resto do curso dizendo que iria me dar o troco. Graças a Deus, até hoje não recebi nada!


Um abraço

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A EDUCAÇÃO É UMA ENGRENAGEM

O perfeito funcionamento de uma engrenagem depende da coordenação entre todas as peças que a compõem. Não é necessário ser um Engenheiro Mecânico para perceber que, quando uma dessas peças, independentemente da função que desempenha, apresenta algum problema, todo o conjunto invariavelmente será prejudicado. A peça defeituosa é submetida a uma análise. Verifica-se, então, a necessidade de retificá-la ou substituí-la. As peças adjacentes não sofrerão nenhuma intervenção, a não ser em caso de comprometimento, em prejuízo daquelas já avariadas.
A engrenagem chamada educação é formada por várias peças, quais sejam: alunos, professores, coordenação pedagógica, administração, estrutura física, recursos tecnológicos e família. Cada peça dessa possui sua importância, sua função. E, muito embora essa "engrenagem" apresente um caráter subjetivo, a grande diferença encontra-se na maneira como uma eventual pane é resolvida.
Enquanto nas engrenagens comuns a peça problemática é a que será analisada, na engrenagem educação, a peça defeituosa já é apontada instantaneamente: o professor! É triste, mas é real. Quem trabalha nessa área certamente já ouviu alguém dizer: "Vocês, professores, precisam criar novas estratégias" ou "Os professores tem a obrigação de despertar no aluno o interesse pelos estudos" ou, ainda, "Os professores são responsáveis por aqueles alunos que não obtiverem sucesso na vida". Parece que a única peça passível de apresentar problema é o professor. Que absurdo! E as outras peças? E as escolas sem nenhuma estrutura? E a coordenação pedagógica que, ao invés de orientar e trabalhar com os professores, limita-se a colocar alunos de volta na sala? E a família, que já incutiu em seus filhos opiniões e valores em descordo com as regras de bom convívio social? E os recursos tecnológicos ainda escassos em pleno século da tecnologia? E a gestão escolar, sem autonomia para resolver os problemas disciplinares que acontecem? E os alunos? Será que essa peça, a principal da engrenagem, não é suscetível a problemas? Será que os alunos são peças infalíveis? Obviamente, não.
Os alunos são, reconhecidamente, os atores principais da educação, as peças principais da engrenagem educação. Porém, é uma injustiça atribuir unicamente a eles a responsabilidade pelo seu sucesso e isentá-los de culpa quando do seu insucesso.
Seria extremamente positivo se cada peça dessa engrenagem chamada educação fosse analisada. Se as escolas recebessem investimentos pesados em infraestrutura e tecnologia; se os professores, coordenadores pedagógicos e gestores escolares fossem capacitados continuamente; se a famílias recebessem apoio psicossocial; se os alunos, enfim, tivessem um acompanhamento do poder público fora da escola também. Pois, como qualquer engrenagem, a educação só funcionará satisfatoriamente a partir do momento em que todas as peças estiverem desenvolvendo seu papel de maneira adequada.


UM ABRAÇO