Era para ser uma simples apresentação de trabalho para a disciplina de Oral Expression. O professor havia pedido à turma que fizesse um Speaking - de 10 a 15 minutos - com tema livre, desde que fosse algo interessante, e nós tivemos cerca de uma semana para preparar o trabalho. Eu andava meio cansado, com aquela mania de deixar para o dia seguinte aquilo que você deve fazer hoje. E o tempo passou.
Quando pensei que não, já era a véspera da apresentação. Comecei a procurar algo interessante e encontrei um texto sobre Grafologia (estudo pseudocientífico que tem como base a análise da escrita para inferir sobre traços da personalidade das pessoas). Era isso!
Li o texto algumas vezes, pesquisei o assunto e estava com a apresentação na cabeça. Mas faltava alguma coisa. Faltava um diferencial. Faltava algo que prendesse a atenção da plateia.
Na hora da minha apresentação, comecei a falar sobre a grafologia com propriedade de sorte que pedi a um voluntário para escrever algo no quadro. Feito isso, fiz uma análise - superficial, é verdade - da escrita da menina, atraindo a curiosidade e atenção de todos.
Entre os espectadores, estava meu melhor amigo. Não era um melhor amigo qualquer. Era um sujeito baixinho, marrento, implicante, ranzinza, ensimesmado, fã de Morrissey e, ainda por cima, torcedor do Vasco. Era uma espécie de antagonista, de inimigo íntimo, que disputava comigo as melhores notas. Quando eu olhava em sua direção, ele fazia macaquices, tentando me desestabilizar. "Eu te pego, seu ...", eu pensava.
De repente, ele se levanta, dizendo com um tom desafiador: "Quero que você analise a minha escrita". As letras dele eram muito bonitas, quase desenhadas. Lembravam até letras de mulheres. "Pois não", respondi, "escreva algo na lousa". Ele escreveu um trecho de uma música do Morrissey.
Transmitindo seriedade, comecei a análise: "A sua escrita, companheiro, revela que você é um cara muito organizado, metódico, detalhista. A letra inicial maior fornece a impressão de que você é muito perfeccionista. Mas o detalhe que mais me chamou a atenção são aquelas letras caídas para a esquerda. Isso revela uma forte tendência ao homossexualismo!". Quando olhei, todos estavam rindo incontrolavelmente, inclusive o professor. O meu amigo era um misto de raiva com vergonha. Havia sido um golpe duro! Em meio às gargalhadas e comentários infames, eu precisei intervir:
"Calma, amigo! É apenas uma tendência. Não disse que você é gay! E mesmo que você seja, qual é o problema?"
Depois disso, as coisas voltaram ao normal. O professor elogiou a apresentação, solicitando, inclusive, que eu analisasse sua escrita. E o meu amigo passou o resto do curso dizendo que iria me dar o troco. Graças a Deus, até hoje não recebi nada!
Um abraço