quinta-feira, 11 de abril de 2013

SEGURO MORREU DE VELHO

De todas as situações constrangedoras por que um professor pode passar, sofrer uma queda dentro da sala de aula é algo terrível. Afirmo isso por experiência própria.
Certo dia, cheguei para dar as minhas aulas. Tudo estava dentro da normalidade. Alguns alunos contando piadinhas infames aos colegas, muitos ainda sem ter resolvido se entrariam na sala ou não, outros conversando sobre aqueles assuntos tão importantes para adolescentes (espinhas, cor da roupa e namoro) e umas três ou quatro testemunhas sentadas, morrendo de ansiedade pelo início da aula.
Como de costume, cumprimentei a todos, expliquei o ínterim da aula que teríamos e fiz a chamada. Em seguida, peguei meu material (entenda-se por material livro e giz, pois naquela época equipamentos modernos de multimídia como datashow eram coisas de filme de ficção científica nessa escola) e escrevi um pequeno texto na lousa. Ocorre que a maioria dos alunos demora muito tempo para realizar a mera tarefa de transcrever algo do quadro. Não sei se fazem isso de propósito ou se leem da direita para a esquerda. O fato é que, como estavam demorando muito, eu resolvi sentar-me um pouco. Displicentemente, não observei que as pernas da cadeira estavam demasiadamente afastadas uma da outra (esta suspeita ficou comprovada depois, na perícia, quando descobriu-se que o ângulo formado pelas pernas da cadeira e o assento era de 148°) e, somando-se isso à força da gravidade, estatelei-me no chão, de costas e com as pernas para cima, exatamente no recanto da parede.
Imagine o silêncio de um cemitério às quatro da manhã. O silêncio da sala era ainda maior! Os alunos me olhavam surpresos, atônitos, estáticos, com os olhos esbugalhados, sem aparentemente acreditar no que havia acontecido. Esse silêncio ensurdecedor durou intermináveis segundos. Foi então que eu, tentando minimizar a importância daquele acontecimento e fingindo o engraçadinho, disse:
- Vocês não vão me ajudar, não?!
Pronto! Era o que faltava: todos começaram a rir incontrolavelmente, como se a minha fala tivesse acendido o pavio. Eu, em parte por estar atordoado em função das gargalhadas e em parte por estar realmente engalhado, não conseguia me levantar. As meninas da frente riam e choravam ao mesmo tempo. Reza a lenda que uma delas sorriu três dias com três noites. Eu estava mais desorientado do que um cego no meio de uma tempestade de areia no deserto e com a bússola quebrada.
Depois de um bom tempo, vieram dois filhos de Deus e levantaram-me. Da aula, a partir de então, só restou o nome. E até hoje aquelas gargalhadas reverberam na minha mente e não sento numa cadeira sem antes verificá-la.

Um abraço!