quinta-feira, 29 de agosto de 2013

AVALIAI BEM!

Nas entranhas do complexo processo de ensino-aprendizagem, a avaliação é um dos aspectos primordiais. A partir dela, os professores tem uma noção concreta em relação ao estágio de desenvolvimento cognitivo em que os alunos se encontram, bem como a sua evolução no processo, além das adaptações necessárias na metodologia de ensino com o objetivo de facilitar a aprendizagem. Ocorre que o modelo de avaliação das escolas públicas na atualidade não consegue realizar seu objetivo fundamental - avaliar as competências e habilidades dos alunos - e constituem uma mera formalidade.
Em primeiro lugar, a avaliação é assistemática. Isso porque o sistema de avaliação contínua requer que, ao final de cada conteúdo ou grupos de conteúdos, os alunos sejam submetidos a uma atividade avaliativa. Se por um lado os alunos tem a facilidade de estudar conteúdos resumidos, por outro surgem dois problemas: a grande quantidade de exercícios e atividades a serem elaboradas, comentadas e corrigidas (eu tenho 9 turmas, com média de 40 alunos. Fazendo 4 avaliações por turma, chego a incríveis 1040 atividades. É muita coisa!), além da inevitável coincidência de datas (às vezes, os alunos fazem atividades de três ou mais disciplinas no mesmo dia). Para melhorar essa situação, um calendário de provas seria uma alternativa. Mas ouse falar nisso nas escolas públicas e você correrá o risco de ser taxado de blásfemo, herege, antiquado, ultrapassado ou algo do gênero.
O interessante é que, nas universidades públicas ou privadas, o professor, ainda no primeiro dia de aulas, entrega a ementa do curso. No documento, estão previstas as datas das avaliações de cada unidade: ou isto é um calendário de provas ou o Brasil fica na Ásia! Dessa forma, essa ideia de que um calendário de provas é coisa do passado é um belo de um sofisma, estultícia apregoada pelos modismos pedagógicos.
Ademais, a escola, constrangida pelo sistema educacional proposto no Brasil - a verdadeira preocupação reside na taxa de aprovação e não na qualidade da aprendizagem - parece não ter interesse de exigir que o aluno realize sua obrigação mais básica: estudar. Infelizmente, o cenário que se apresenta é aquele em que o professor finge que ensina, o aluno finge que aprende e todos vivem felizes para sempre. Essa triste realidade precisa ser combatida. É preciso deixar os estereótipos de lado e aplicar iniciativas positivas, independentemente do momento histórico ao qual pertençam. Eu sou de uma época em que a maioria absoluta dos alunos dava a devida importância às avaliações e reconheciam a necessidade de estudar para enfrentá-las. Ninguém, até onde eu sei, morreu por causa disso. Hoje, em contrapartida, a educação assiste, inerte, a um processo de mitigação das avaliações o qual serve apenas para aumentar o abismo existente entre escolas públicas e privadas. O resultado desse fenômeno é um número cada vez maior de alunos oriundos de escolas públicas frequentando universidades privadas, apoiados por programas sócio-populistas do governo ao passo que alunos da rede privada de ensino abarrotam os bancos das universidades públicas: utopia!
É importante ressaltar ainda a diferença na concepção de avaliação facilmente verificada dentro do próprio sistema. No ensino médio, as avaliações são fragmentadas e superficiais. Nesse sentido, o aluno chega para prestar um exame como o ENEM trazendo na sua bagagem uma experiência totalmente diversa, uma vez que as provas do exame são extensas, contextualizadas e integradas. Em outras palavras, o aluno tem vida fácil nas escolas públicas e são submetidos a uma prova elaborada pelo Ministério da Educação cujo nível é alto. Nessa situação, o aluno será exigido severamente e suas chances de êxito tornam-se ínfimas ou muito próximas disso, considerando o fato de eles não terem sido exigidos na escola. Os professores, inegavelmente, tem sua parcela de culpa, mas o sistema coage o professor a trabalhar de mãos atadas.
O sistema de avaliação precisa ser rapidamente rediscutido e aprimorado. A esse aspecto deve ser atribuída a devida importância. O aluno precisa ter a responsabilidade de estudar e saber que será exigido nas provas. Um padrão nacional deve ser adotado em todos os níveis de ensino. A avaliação tem que avaliar. Apenas assim a escola pública terá a chance de recuperar sua credibilidade, perdida ao longo dos anos, e os alunos saberão por quê e para quê estão sendo avaliados.


Um abraço

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Intrigas existencialistas à parte, o professor é um ser social cuja importância, tantas vezes surrupiada pelos desmandos das autoridades e até por alguns segmentos da sociedade, é indiscutível. E o maior salário que este profissional recebe não é de caráter pecuniário. A gratidão, a amizade, o respeito e o reconhecimento por parte dos alunos, em muitas situações, representam mais do que nossos rendimentos de final de mês.
Dias atrás, eu estava entrando na sala de aula para realizar minha labuta diária. Eis que um aluno aproximou-se de mim e disse:
- Professor, tenho uma surpresa para o senhor.
Instantaneamente, ele colocou a mão no bolso da calça. Como eu estou liderando uma campanha denominada AJUDE SEU PROFESSOR A TROCAR DE CELULAR, eu imaginei que ele fosse doar alguma quantia. Ledo engano. Ele sacou do bolso um telefone celular. Mais que depressa, ele acessou uma pasta cheia de arquivos de músicas - acho que havia umas duzentas. Ele apertou o play.Subitamente, os acordes de uma belíssima canção começaram a soar freneticamente:

Tchê, tchê, tchererê, tchê, rum rum
Tchê, tchê, tchererê, tchê, rum
Tchê, tchê, tchererê, tchê, rum rum
Ninaninanina, ninaninanina (2x)

Como não entendesse nada, fiquei olhando e ouvindo, no aguardo de uma explicação a qual, a bem da verdade, veio em seguida:
- Eu sabia que o senhor gostava dessa música. Fui procurar na internet e baixei. E continuou:
- Eu não gostava do Grafith, mas agora sou fã!
Aquilo, para ele, fazia muito sentido. Era uma homenagem genuína, honesta, de coração. Evidentemente, eu não esperava tal acontecimento. Assim como não esperava que meus olhos se enchessem de lágrimas. Foi uma emoção muito grande. 
O que me chamou mais a atenção foi, certamente, a escolha da música. Eu odeio o Grafith. Contudo, para não parecer insensível, agi como se estivesse ouvindo alguma das minhas músicas preferidas. E antes que esqueça, gostaria de contar com a discrição de vocês, caros leitores desse blog, no sentido de não revelar minhas preferências musicais e não constranger ninguém que eventualmente queira prestar-me uma homenagem análoga.


Um abraço