quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

BOMBA DE EFEITO RETARDADO

Diz-se de bomba de efeito retardado o artefato bélico que, lançado em determinada superfície, necessita de um espaço de tempo para produzir seus efeitos. Um bebê inesperado pode ser considerado um bom exemplo. Mas, por que raios eu estaria falando sobre isso neste ambiente educacional? Vou explicar.
Um dia desses, um aluno chegou à sala da direção da escola bastante pálido - como se tivesse visto um fantasma, tremendo, suando, contorcendo-se todo e com um das mãos imediatamente sobre sua barriga (bucho, diriam aqueles que o tivessem visto). Naquele momento, a pressa para chegar em casa foi mais forte do que a curiosidade que aquela cena despertava em mim. Assim fui embora tranquilamente. Lembro-me que, ao chegar no portão de saída, ouvi um estrondo, como se fosse um estampido de uma bomba, mas, cansado, não voltei. No dia seguinte, não fui à escola pois tratava-se de um feriado estadual. A imagem do menino empalidecido, contudo, não saía da minha cabeça. "O que teria acontecido para deixar o aluno daquele jeito?". 
Pois bem, dois dias depois de presenciar tão emblemática cena, eu estava de volta às atividades escolares rotineiras. Na hora do intervalo, entretanto, as coisas não estavam normais: barulho de martelo, carros de mão para lá e para cá, máscaras de oxigênio, tubulações de pvc sendo transportadas, cimento e britadeiras, tudo convergindo para o mesmo lugar: o banheiro dos professores.
- O que está acontecendo?, pensei.
Incomodado com o barulho e com um misto de curiosidade e preocupação, fui averiguar. Ao chegar, vi que havia um pedreiro e um ajudante no interior do banheiro, próximo ao vaso sanitário, quase desmaiados. A diretora aproximou-se de mim e disse:
- Relaxa. Vou te contar o que houve. E começou: sabe o aluno tal, que chegou aqui anteontem pálido...
- Sei. O que foi?
- Ele pediu para usar o banheiro dos professores, pois o banheiro dos alunos estava sem papel. Eu permiti. Ele lançou um míssil - era um SCUD, o mesmo tipo que o Iraque usou contra os Estados Unidos na guerra do Golfo, em 1991 - e as tubulações estão entupidas. 
Dizem que o "míssil" era enorme, espesso, enegrecido e quase indestrutível - até britadeiras foram usadas, sem êxito, para tentar fragmentá-lo.
É bem verdade que talvez você não esteja vendo relação entre o título do texto e os eventos narrados. Mas essa relação se estabelece a partir do momento em que o míssil só foi descoberto no dia seguinte, quando a outra turma da limpeza chegou. A demora em encontrar o artefato acabou por produzir um efeito muito maior do que o normal, caso tivesse sido detectado logo após o lançamento.
Quando fui embora nesse dia, observei uma cena interessante: o pedreiro, com o vaso sanitário suspenso (lembrava aquele rapaz do Olodum), tentando retirar os resquícios do míssil. Ao que parece, ele conseguiu.

Um abraço.