sábado, 21 de junho de 2014

Em 1996, o governo brasileiro publicou a Lei 9394 - a LDB. Por um lado, isso representa um marco, um avanço sem precedentes no trato com a educação pública no Brasil. Por outro, alguns problemas surgiram. Um deles, especificamente, abordava a situação dos professores que atuavam no magistério sem formação superior. De uma hora para outra, aqueles profissionais que, em muitos casos, eram arremessados numa sala de aula pelos chefes do executivo de suas localidades viam-se obrigados a ter um curso superior. Ocorre que muitos deles não teriam condições - nem físicas, nem psicológicas - de concorrer a uma vaga em um banco de universidade com jovens recém-saídos do ensino médio. Contudo, é sempre bom lembrar que nós estamos no Brasil e, num passe de mágica, o governo resolve credenciar instituições de ensino superior a torto e a direito para formar os profissionais e equacionar o problema. Com isso, a formação dos professores foi seriamente afetada (mas isso é assunto para outra oportunidade). Para ilustrar essa problemática, passo a relatar uma situação bastante cômica, ou trágica, dependendo do viés do amigo leitor.
Não são raras as vezes em que alguém com dificuldades acadêmicas recorre a amigos e familiares ou, até mesmo, fazem uso de seus recursos pecuniários para ter uma determinada atividade de seu curso feita. Foi o que aconteceu comigo. Uma pessoa a qual já enveredava nos caminhos da educação havia muito tempo, sempre em cargos de chefia, aproximou-se e começou a conversar, contando suas aventuras discentes. Lá pelas tantas, ela resolveu desembuchar:
- Rapaz, eu tô precisando fazer um trabalho, mas nem sei por onde começar!, disse.
Um pouco atônito e tentando esconder minha surpresa, perguntei:
- Sobre o quê?
- Pedagogia.
- Mas o que exatamente? Pedagogia tradicional? Escola Nova? Algum autor específico?
- Não, não. É sobre um... ator famoso ou cantor... pera aí que vou pegar o nome dele no carro.
Foram dois minutos de espera e muita, mas muita curiosidade. Pensei: "Ator?!?! Como assim? Cantor?!?! Que danado de trabalho é esse?"
Quando a pessoa voltou, com um livro na mão, tentando dizer o nome do tal "ator", eu entendi tudo:
- Pi...a...géte! Acho que é assim que se fala.
- Piaget! pronunciei secamente. Não posso fazer esse trabalho. 
- Por quê?, perguntou.
- Não gosto muito dos filmes nem das músicas dele!, respondi.
Antes que a pessoa pudesse dizer qualquer coisa, fui embora sem sequer me despedir. Eu não sabia se sorria ou se chorava. Como é que pode? Um pedagogo ou estudante de pedagogia ou qualquer pessoa que vive no meio da educação não saber quem é Piaget é o mesmo que ser meu aluno e não saber que eu tenho um blogue! É o mesmo que ser um cantor de forró e não saber quem é Luiz Gonzaga! É o mesmo que brincar no bloco dos Índios e não saber quem é Caçopa!

Um abraço!