quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Sobre o Tempo

Sobre o Tempo


Anos, meses.

Semanas, horas.

Minutos, segundos, tempo…

Que todos conhecemos,

Mas não sabemos explicar.

Parece que foi ontem.

Parece que é agora.

Certamente será amanhã e depois e depois…


O tempo passa.

Uma revolução de sentidos.

A visão é inútil,

A audição, desnecessária

E o olfato, impotente.

Para ver-te, ouvir-te e sentir-te

Basta-me o coração!


E a vida segue.

E a saudade segue.

Crescendo a cada dia.

Fazendo parecer que o tempo,

Esse mesmo que passa,

E que cura as feridas

Mostre sua incapacidade

Ou, simplesmente, não exista.


Segunda, terça, janeiro, fevereiro...

Inverno, primavera, verão...

Sob a luz do sol, 

Sob o brilho das estrelas.

Enquanto durar o meu tempo,

Em cada fração de instante:

Um eterno momento.




Danilo César


segunda-feira, 6 de abril de 2020

ÉRAMOS FELIZES E NÃO SABÍAMOS!

Em tempos de pandemia, de distanciamento social e de reclusão quase que absoluta em casa, eu estou sentindo muitas saudades de coisas que até pouco tempo atrás eram corriqueiras como apertos de mão firmes, abraços calorosos, conversas despreocupadas e, pasmem, a minha estressante rotina escolar. É importante deixar claro que o fato de nós, professores, estarmos em casa não é uma escolha nossa. Isso foi devidamente acordado por meio de reuniões entre o poder público e autoridades sanitárias como forma de reduzir a probabilidade de contágio por coronavírus, tendo em vista que as salas de aula seriam locais potencialmente suscetíveis à proliferação viral. Como consequência, temos uma condição fundamentalmente atípica: em pleno mês de abril, nós não temos aula. Professores e alunos, essa relação social, comensalista e simbiótica simplesmente está suspensa. Tudo isso fez com que eu passasse a ver alguns aspectos da vida de professor com outros olhos.
Inicialmente, eu sempre considerei acordar às 5:30 da manhã algo bastante custoso. Principalmente naquelas manhãs chuvosas em que o cobertor enrola nas nossas pernas e quase não nos deixa sair da cama ou depois de uma noite na qual nós assistimos nossos times do coração até altas horas. Mas, à medida que o tempo vai passando, ficar duas horas e meia a mais na horizontal, em vez de descansar, acaba nos deixando entediados, talvez aborrecidos. 
Além disso, a falta de interação com nossos colegas de profissão é um problema que a tecnologia suaviza, mas não resolve. Como seria possível representar o ambiente de uma sala de professores com suas idiossincrasias? Discutir os problemas concernentes à educação e à sociedade, reclamar das condições de trabalho que às vezes enfrentamos, reportar acontecimentos ocorridos em salas de aula, trocar experiências e conhecimentos e formar aquela velha resenha enquanto tomamos um cafezinho jamais será possível virtualmente. E os alunos? Bem, isso é um capítulo à parte.
Aquele barulho que eles fazem arrastando as cadeiras soam hoje como a 9ª Sinfonia de Beethoven (Ode a Alegria)¹, os gritos estridentes fazem-me lembrar dos acordes meticulosamente afinados da guitarra de Slash², os pedidos incessantes e impacientes para ir ao banheiro ou beber água fazem parecer que nós estamos no controle da situação, o palavreado muitas vezes de baixo calão hoje reverberam na mente como um poema parnasiano³. Eu sinto muita falta disso. Todos os professores sentem. Do calor humano de cada um que nos cumprimenta com um gesto carinhoso ao entrar na sala, mas também daqueles que passam e sequer dizem "bom dia." Sentimos falta das piadas infames, dos atrasos nas atividades acompanhados de desculpas esfarrapadas. Sentimos saudades até mesmo quando eles estão com os maiores problemas da humanidade da semana passada. Sentimos saudades das conversas intermináveis, do compartilhamento de respostas das atividades e do vácuo sonoro quando perguntamos alguma coisa.
Foi preciso chegar uma epidemia de grandes proporções para sentirmos a imprescindibilidade dos alunos na nossa vida corriqueira. Nós éramos felizes e não sabíamos! 

²Guitarrista do Guns N'Roses
³ Escola literária que tinha o rebuscamento da palavra como uma de suas características principais.



sábado, 28 de julho de 2018

(SUR)REALIDADE

O Surrealismo foi um movimento artístico-literário nascido na década de 1920, na França, como uma das Vanguardas Europeias que dariam forma ao Modernismo no período compreendido entre as duas Guerras Mundiais. Alinhado com as ideias Freudianas, a essência do Surrealismo era libertar a mente da lógica imposta pelos padrões de comportamento da sociedade e dar vazão aos sonhos, ao inconsciente, ao ilógico e a uma espécie de suprarrealidade que muitas vezes vai além da inteligibilidade humana. É possível que isso explique o fato de chamarmos de surreal algo que vemos e não conseguimos compreender, como um episódio que aconteceu em uma escola de uma distante cidade.
Imagine que você é um estudante do 5º ano do Ensino Fundamental, com longos 17 anos de experiência de vida. Em meio a uma aula, o seu lápis desaparece. O que você faz? Reclama com o professor? Chama a direção da escola? Pergunta aos colegas se alguém viu o objeto? Esquece e continua as atividades sem problemas? Se você for o aluno protagonista da história (sur)real que segue, nenhuma dessas hipóteses é suficiente para resolver o problema.
Era um dia normal de aula. Em determinado momento, porém, um adolescente, daqueles de difícil convivência em função de sua indisciplina, saltou da cadeira e reclamou:
- Cadê o "mô"¹ lápis? Alguém "robô"! Eu quero o "mô" lápis!
Mesmo sabendo que um lápis nas mãos daquele indivíduo seria tão útil quanto um fuzil AK-47 nas mãos de Mahatma Gandhi, a professora prontamente abriu a própria bolsa e retirou um lápis novo em folha e o ofereceu ao aluno, para compensar o absurdo prejuízo do qual ele reclamara. O aluno, entretanto, respondeu, em tom de ameaça:
- Eu quero o "mô" lápis, senão...
A professora naturalmente ficou com medo, pois já conhecia o histórico de mal comportamento e, até mesmo, de agressividade do rapaz. O que ela fez, então? Como não poderia chamar o BOPE, ela chamou a direção da escola. Uma comissão formada pela direção e coordenação dirigiu-se até a sala de aula. Explicada a situação, a diretora saiu e quando voltou trouxe uma caixa de lápis ainda lacrada para dar ao aluno. Se aceitasse, ele teria um lucro de 1100%. Ele não quis. Simplesmente repetiu:
- Eu quero "mô" lápis!
A equipe argumentou que não poderia encontrar o tal lápis. E o adolescente insistiu:
- Eu quero o "mô" lápis. Se não aparecer até o final da aula, eu vou levar uma dessas cadeiras pra casa. E se o vigilante vier com gracinha, ele vai ver o que eu faço!" 
Em consenso, a equipe decidiu orientar o vigilante a não intervir, caso o aluno resolvesse cumprir o que prometera.
O problema é que o tempo foi passando e a aula chegou ao fim. O lápis não apareceu. O aluno, claro, foi embora sem problemas e todos ficaram aliviados, certo? Errado! O indivíduo pegou a cadeira, colocou nas costas e saiu tranquilamente pelos portões da escola, ostentando um sorriso cínico de canto de boca. Os funcionários, os alunos e as pessoas que passavam olhavam aquela cena e não entendiam nada. Era como um cego tentando interpretar Terra Lavrada², de Joan Miró. Era uma cena digna de fazer parte do filme Cão Andaluz, de Salvador Dalí e Luis Buñuel.
Nos momentos que se seguiram, a direção entrou em contato com a Polícia Militar, pois aquela situação tinha evoluído de um simples ato de indisciplina para um ato infracional (eufemismo imposto pela legislação para crimes cometidos por menores de idade). A Polícia dirigiu-se à casa do rapaz e, ao chegar lá, deparou-se com o adolescente sentado na dita cadeira na calçada de sua casa. Ele foi conduzido à Delegacia, foi ouvido e depois liberado. A cadeira foi devolvida pela Polícia. O aluno foi encaminhado ao Conselho Tutelar que obviamente recomendou a transferência do aluno, certo? Errado! O órgão responsável por garantir os direitos das crianças e adolescentes disse que o aluno deveria retornar às aulas, argumentando que nenhum adolescente pode ficar sem estudar.
O que mais me surpreende nessa história é saber que tudo isso aconteceu por causa de um lápis. Fico imaginando o que esse rapaz faria se ele tivesse perdido uma janela...

Um abraço!

¹ meu
² Terra Lavrada












sexta-feira, 27 de julho de 2018

A ARTE DA CONQUISTA

Conquistar alguém nunca foi uma tarefa fácil. Na minha época de adolescente era um enorme desafio. Em primeiro lugar, porque não havia redes sociais de modo que o contato era unicamente olho no olho. Quanto mais tímido, menos chance de "descolar" você teria. Além disso, a marcação dos pais era cerrada. Encontrar sua paquera sozinha na praça ou dando sopa em uma festa era um acontecimento raríssimo. Mas as coisas mudam e esses dias eu pude testemunhar como o processo de conquistar uma namorada está, digamos, exótico.
Tudo começou quando percebi, entre uma explicação e outra, meus alunos conversando sobre namoro. Um desses alunos, em especial, chamou-me a atenção pois, até então, o interesse dele se resumia a chamar palavrões. Em tempo: os vocativos presentes nas suas frases sempre eram palavrões. E, movido pela curiosidade, resolvi entrar na conversa.
Com toda aquela empáfia de quem conhece do riscado, comecei a dar conselhos sobre como abordar uma menina, quais coisas deveriam ser ditas, como trabalhar a expressão corporal (claro que não especificarei o que disse , pois não quero correr o risco de ser avaliado pelos leitores, não é?).
A sirene tocou, avisado o término da aula. Eu estava certo de que o menino tinha entendido perfeitamente a mensagem. Para minha surpresa, entretanto, o menino saiu em disparada e deu de cara com sua amada, que vinha em sentido contrário. Quando eu menos esperava, ele pegou uma bola de papel que ele tinha confeccionado carinhosamente durante a aula e lançou em direção à menina. O objeto fez uma trajetória retilínea e acertou o meio da testa da menina. Ela saiu correndo, cambaleando, tentando pegá-lo. 
"Que desastre", eu pensei. "Como é que o cara vai conquistar a menina jogando uma bola de papel na sua cabeça? Pode esquecer!", arrazoei com meus botões.
No dia seguinte, porém, ao passar pelo corredor, vi os dois juntos. Ainda sem acreditar, iniciei uma criteriosa investigação para saber se eles estavam namorando. Apesar de os resultados das investigações apontarem para a confirmação do relacionamento, eu ainda não acreditava. A ficha só caiu quando eu perguntei e os dois confirmaram.
Hoje, eu os vi novamente juntos. Fiquei com a impressão de que esse relacionamento será duradouro, talvez termine em casamento. Como cheguei a essa conclusão? Eles começaram a trocar socos e empurrões assim que se encontraram.

Um abraço!   

segunda-feira, 7 de maio de 2018

A ARMA DO ESTUDANTE SÃO OS LIVROS

A violência dentro das escolas está se tornando algo comum, banal. Um comentário mal proferido, um olhar diferente, um esbarrão involuntário ou mesmo a antipatia por alguém tornam-se argumentos irrefutáveis no sentido  de constranger o indivíduo a tirar satisfações. O problema é que, em vez do diálogo, as agressões verbais e físicas parecem ser as únicas formas de se resolver o problema para seres que, a princípio teriam a capacidade de controlar seus instintos e raciocinar antes de agir. Nesse sentido, o que poderia explicar tal processo?
Em primeiro lugar, a banalização da violência é uma cruel realidade. O que antes era visto como algo extraordinário ou inimaginável, hoje é corriqueiro. Nesse contexto, os programas "policiais" tem um importante papel. A exposição diária e exagerada na televisão de atos violentos e atrocidades inomináveis acabam provocando nas pessoas um sentimento de naturalidade em relação a esses atos. Em consequência disso, as crianças e adolescentes que assistem a esses programas, acompanhados de seus pais ou não, começam a achar que tudo deve ser resolvido através da força. Em outras palavras, a escola sofre hoje o resultado da superexposição à violência à qual as crianças estão submetidas no seu cotidiano. Somando-se a isso o uso indiscriminado do celular, através do qual a criança ou adolescente pode acessar, a qualquer momento e sem a orientação dos pais, conteúdos de violência explícita, temos o cenário perfeito para a difusão de atos violentos como principal meio de resolução de problemas. Assim, qualquer conflito que eventualmente surja entre alunos é analisado pelos envolvidos sob a perspectiva do enfrentamento e da violência. 
Além disso, a própria relação de muitos pais com seus filhos é construída sobre o alicerce da intolerância. Isso porque homens e mulheres estão sendo pais cada vez mais cedo. Como eles ainda não tem uma carga emocional equilibrada, em função da pouca idade, em muitos casos, a única maneira que encontram de se impor é por meio de violência, chamando a atenção dos filhos através de palavrões ou simplesmente agredindo, sem necessidade. Esse tratamento é reproduzido na escola: em vez de proferir uma palavra, eles preferem desferir um golpe. É como se fazer uma gentileza ou tratar os outros bem fosse uma atitude sem valor, sem necessidade e sem sentido. É comum, por exemplo, os pais chegarem na escola de surpresa e, em vez de conversar, gritarem com os filhos ou ameaçá-los. O reflexo disso é um adolescente traumatizado e, por vezes, violento. 
Há, ainda, a sensação de impunidade que a grande maioria dos adolescentes tem. Eles acham que o fato de serem adolescentes lhes assegura a possibilidade de fazer o que quiserem sem nenhum tipo de punição.
Em que pese a discussão em torno da brandura das medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, elas existem. Porém, essas medidas não parecem uma forma eficaz de demover os adolescentes de se envolverem em atos violentos, inclusive nas escolas. Foi essa a impressão que eu tive, recentemente, ao conversar com uma adolescente que tinha se envolvido em uma briga na escola onde trabalho. Por mais que eu insistisse em explicar que aquilo tudo não valia a pena, ela simplesmente repetia que não sairia dali enquanto não "pegasse" a menina para "quebrar a cara dela". Ela não estava preocupada com o que poderia acontecer. Até mesmo a presença da Polícia Militar não a constrangia. Os gritos dos alunos, uma espécie de torcida, parecia ser o combustível ideal para sua fúria. A rua parecia a arena. Um cenário triste, desolador. 
Esse tipo de fenômeno é parte da ressonância do discurso de que "o cidadão de bem tem direito a possuir uma arma". Um discurso que a cada dia se fortalece, como já era de se esperar em um país onde refrões monossilábicos e vulgares fazem muito mais sucesso do que versos cuidadosamente escritos.
A escola, mesmo com todas as dificuldades, mais do que ensinar conteúdos programáticos, precisa mostrar a seus alunos que eles devem usar a palavra para resolverem seus conflitos e que os livros são muito mais importantes para suas vidas do que armas: ensinam e não matam, educam sem ferir ninguém.


Um abraço.





sábado, 26 de março de 2016

UMA AULA SÃO VÁRIAS AULAS

Uma aula, independentemente da disciplina trabalhada, são várias aulas. Conteúdos programáticos misturam-se com questões cotidianas, muitos temas ultrapassam as barreiras de uma determinada área do saber e abordagens diversas sobre um mesmo tema são comuns. E o mais importante é que os alunos participam desse momento, saibam eles ou não. Nesse sentido, os professores precisam estar atentos para não perder o fio da meada. 
Nas últimas semanas, eu precisei, em vários momentos, interromper a minha aula para tratar de temas extrínsecos ao meu planejamento, mas o fiz com todo o afinco. Afinal, é sempre importante contextualizar.
Primeiro, estava indicando a página do livro, quando ouvi um aluno perguntando a outro:
- Cospe-cospe veio?
- Veio não!
Perguntei do que se tratava e um deles disse que essa era a forma como eles se referiam a um determinado professor. Segundo eles, enquanto o referido mestre fala, secreções salivares, também conhecidas como "cuspe", descem em grandes quantidades pelo recanto de sua boca, sendo necessário, às vezes, o uso de uma capa de chuva para se manterem secos. Eu disse que aquilo era extremamente deselegante, mas aproveitei para falar sobre uma figura de linguagem chamada Antonomásia (troca de um nome por uma expressão que facilmente identifique alguém, como "Rei do Futebol" para se referir a Pelé). Acredito que eles entenderam.
Outro dia, enquanto explicava, dois alunos conversavam sobre a aventura da noite anterior. Um deles jurava, veementemente, que teria cumprido um percurso de quase 2 quilômetros em dez segundos, de moto, à noite e numa estrada muito sinuosa. Ouvindo aquilo, não resisti e convidei a turma para fazermos os cálculos. Se o aluno percorreu 2km em dez segundos, isso significa que sua velocidade era de 720km/h. Mas como a estrada era sinuosa e escura, todos ficamos com uma leve desconfiança de que ele estava mentindo. Em que pese a falta de um fundo de verdade na história, nós aprendemos a relacionar grandezas e a transformar metros por segundo em quilômetros por hora, além de perceber que mentiras tem pernas curtas e às vezes andam de moto.
Na semana passada, um aluno me perguntou o que era DST. Uma vez mais, eu deixei o conteúdo em segundo plano e fui explicar ao garoto. Numa cena inédita, todos prestaram atenção ao que este professor dizia. Ao final da explicação, eu perguntei se alguém gostaria de fazer um questionamento. Mais que depressa um deles perguntou: 
- Professor, pode tomar banho depois de fazer sexo? 
- Pode, caso haja água.
Nesse mesmo dia, ainda, aconteceu uma coisa curiosa. Enquanto eu fazia a chamada, percebi um garoto que tinha encontrado em outra turma. Logo, perguntei:
- Menino, você não estava em outra sala?
- Estava, professor, mas o diretor mandou eu voltar pra trás, aí eu voltei de volta!
Bem, a partir daquele instante, esqueci meu planejamento e fui falar sobre Pleonasmo...

Um Abraço!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

DIA DO PROFESSOR: COMEMORAR O QUÊ?

A cada ano, o dia 15 de Outubro, data alusiva aos professores e professoras de todo o país, acontece para a celebração desse profissional. Entretanto, o que temos para comemorar?
Inicialmente, nós podemos comemorar os discursos entusiasmados dos políticos (no próximo ano teremos mais uma demonstração) apregoando aos quatro ventos que "educação é prioridade". Porém, parece que essa importância tão reforçada quando se quer angariar votos é subitamente arrefecida a partir do momento em que se chega ao poder. O que antes era prioridade, passa a ser despesa desnecessária. Há muitas outras coisas para se investir: contratação de funcionários fantasmas, articulação de um grupo político capaz de ajudar a permanecer no poder quem já está lá, ações de marketing, entre outros. Meus amigos, a educação dificilmente será uma prioridade para os políticos pelo simples motivo de que é mais fácil pagar pelo apoio do que convencer as pessoas através de argumentos e de ideias. Mas não é só isso.
É possível comemorar também as condições de trabalho verificadas nas escolas de todos os lugares do Brasil. Em muitos casos, há escolas em situação de total abandono. Salas de aula quentes, mal iluminadas, sujas. Falta de material de expediente. Falta de locais adequados para atividades recreativas. Banheiros sem manutenção adequada. Todo esse ambiente afeta negativamente o estudante e os professores. Como resultado dessa realidade, tem-se um desempenho absurdo, muito abaixo da linha de razoabilidade de aproveitamento. Contudo, ainda há o que comemorar.
Às vezes, eu desconfio que o único profissional que não precisa pagar suas contas, nem ter direito a lazer, tampouco a viajar é o professor. Quem nunca ouviu alguém - seja ocupante de papel social importante,seja um mero puxa-saco - afirmar que "o professor deve trabalhar por amor"? Mas será que apenas os professores tem a capacidade de amar ou trabalhar por amor? Por que os políticos não trabalham por amor? Por que os juízes, médicos, militares, engenheiros, advogados e executivos não trabalham por amor? Isso é ridículo! O professor, como qualquer profissional, deve trabalhar COM amor, mas não POR amor. O amor, por si só, não garante vida digna a ninguém. Por causa desse discurso romântico, há cada vez menos indivíduos pensando em entrar para a docência. Deixemos essa hipocrisia encomendada e passemos a entender os professores como categoria profissional realmente importante. Acha que acabou? 
Podemos festejar a desunião que impera no meio do magistério. A explicação é simples: a maioria das pessoas prefere uma vantagem individual, em detrimento de um direito coletivo. As pessoas não querem sair de sua zona de conforto e nem se dispõem a lutar contra os poderosos. Eles querem ter os direitos, mas não lutam por eles e, pior, ainda tem a desfaçatez de dizer, olhando nos olhos de seus alunos, para lutarem pelos seus direitos. Quanta incoerência! Nós precisamos entender que devemos lutar pela nossa categoria, não por interesses individuais ou estaremos fadados a essa realidade para sempre.
No final das contas, ainda temos que "celebrar nosso governo e nosso Estado que não é nação, celebrar a juventude sem escolas [...] celebrar nossa justiça, os preconceitos, o voto dos analfabetos e nosso descaso pela educação..."
Mas se há algo que devemos comemorar neste dia é o fato de observarmos os alunos que nos respeitam, nos admiram, aprendem conosco e nos ensinam, que reconhecem nossa relevância social e, sobretudo, que são gratos pelo sucesso pessoal e profissional que alcançam.
Talvez um dia essa data de hoje deixe de ser apenas um dia para felicitar os professores com mensagens comoventes muitas vezes revestidas dissimulação e fingimento. Professores merecem respeito e reconhecimento através de ações efetivas de valorização, de democracia e de isonomia. "As palavras sem as obras não valem de nada!"

Um Abraço!