A violência dentro das escolas está se tornando algo comum, banal. Um comentário mal proferido, um olhar diferente, um esbarrão involuntário ou mesmo a antipatia por alguém tornam-se argumentos irrefutáveis no sentido de constranger o indivíduo a tirar satisfações. O problema é que, em vez do diálogo, as agressões verbais e físicas parecem ser as únicas formas de se resolver o problema para seres que, a princípio teriam a capacidade de controlar seus instintos e raciocinar antes de agir. Nesse sentido, o que poderia explicar tal processo?
Em primeiro lugar, a banalização da violência é uma cruel realidade. O que antes era visto como algo extraordinário ou inimaginável, hoje é corriqueiro. Nesse contexto, os programas "policiais" tem um importante papel. A exposição diária e exagerada na televisão de atos violentos e atrocidades inomináveis acabam provocando nas pessoas um sentimento de naturalidade em relação a esses atos. Em consequência disso, as crianças e adolescentes que assistem a esses programas, acompanhados de seus pais ou não, começam a achar que tudo deve ser resolvido através da força. Em outras palavras, a escola sofre hoje o resultado da superexposição à violência à qual as crianças estão submetidas no seu cotidiano. Somando-se a isso o uso indiscriminado do celular, através do qual a criança ou adolescente pode acessar, a qualquer momento e sem a orientação dos pais, conteúdos de violência explícita, temos o cenário perfeito para a difusão de atos violentos como principal meio de resolução de problemas. Assim, qualquer conflito que eventualmente surja entre alunos é analisado pelos envolvidos sob a perspectiva do enfrentamento e da violência.
Além disso, a própria relação de muitos pais com seus filhos é construída sobre o alicerce da intolerância. Isso porque homens e mulheres estão sendo pais cada vez mais cedo. Como eles ainda não tem uma carga emocional equilibrada, em função da pouca idade, em muitos casos, a única maneira que encontram de se impor é por meio de violência, chamando a atenção dos filhos através de palavrões ou simplesmente agredindo, sem necessidade. Esse tratamento é reproduzido na escola: em vez de proferir uma palavra, eles preferem desferir um golpe. É como se fazer uma gentileza ou tratar os outros bem fosse uma atitude sem valor, sem necessidade e sem sentido. É comum, por exemplo, os pais chegarem na escola de surpresa e, em vez de conversar, gritarem com os filhos ou ameaçá-los. O reflexo disso é um adolescente traumatizado e, por vezes, violento.
Há, ainda, a sensação de impunidade que a grande maioria dos adolescentes tem. Eles acham que o fato de serem adolescentes lhes assegura a possibilidade de fazer o que quiserem sem nenhum tipo de punição.
Em que pese a discussão em torno da brandura das medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, elas existem. Porém, essas medidas não parecem uma forma eficaz de demover os adolescentes de se envolverem em atos violentos, inclusive nas escolas. Foi essa a impressão que eu tive, recentemente, ao conversar com uma adolescente que tinha se envolvido em uma briga na escola onde trabalho. Por mais que eu insistisse em explicar que aquilo tudo não valia a pena, ela simplesmente repetia que não sairia dali enquanto não "pegasse" a menina para "quebrar a cara dela". Ela não estava preocupada com o que poderia acontecer. Até mesmo a presença da Polícia Militar não a constrangia. Os gritos dos alunos, uma espécie de torcida, parecia ser o combustível ideal para sua fúria. A rua parecia a arena. Um cenário triste, desolador.
Esse tipo de fenômeno é parte da ressonância do discurso de que "o cidadão de bem tem direito a possuir uma arma". Um discurso que a cada dia se fortalece, como já era de se esperar em um país onde refrões monossilábicos e vulgares fazem muito mais sucesso do que versos cuidadosamente escritos.
A escola, mesmo com todas as dificuldades, mais do que ensinar conteúdos programáticos, precisa mostrar a seus alunos que eles devem usar a palavra para resolverem seus conflitos e que os livros são muito mais importantes para suas vidas do que armas: ensinam e não matam, educam sem ferir ninguém.
Um abraço.
Parabéns Danilo pela clareza das suas palavras, sempre atentas a realidade como ela se apresenta. Sou fã do ser humano, filho, irmão, esposo, educador que vc é. Deus abençoe seus caminhos primo, dando -lhe coragem e força para prosseguir adiante mesmo neste cenário difícil em que se encontra a educação no nosso País e de uma maneira especial em nosso municipio. Um abraço, parabéns pelo texto.
ResponderExcluir