Nos idos de 1992, havia uma disciplina escolar chamada Educação Moral e Cívica. A grande maioria da turma não dava a devida importância àquele componente curricular, uma vez que o objeto de estudo era sem sentido, pelo menos para adolescentes de 13 ou 14 anos de idade, preocupados com o nascimento de pelos e o surgimento de espinhas.
O problema é que, apesar de subestimada pelos alunos, essa disciplina tinha o mesmo valor das outras na hora de definir a aprovação ou reprovação dos estudantes. E o dia da prova do 4º bimestre chegou. Eu já tinha passado, mas alguns dos meus amigos estavam pendurados.
Durante a aplicação da prova, enquanto eu tentava fazer a minha, era insistentemente interrompido:
- Qual a resposta do 2?, perguntava um deles.
- Ei, diz a resposta do 3, pedia outro.
Quando já ia entregar a minha prova, olhei do lado e vi um dos meus amigos com os olhos marejados. Ele não fizera nada e seria reprovado certamente. Poderia ter virado as costas, mas com um lindo gesto de altruísmo e humanidade, pedi a sua prova e comecei a respondê-la. Porém, para complicar a situação, outro amigo viu e também pediu ajuda. Peguei sua prova e a respondi também. E quando fui levantando para sair, senti algo inesperado. Um aluno com o qual eu nem falava por questões juvenis - times e disputas por namoradas - tocou no meu ombro e disse:
- Faça a minha prova, senão vou falar para o professor. Eu vi você fazendo as provas dos outros.
Eu comecei a tremer. Era um misto de raiva e medo. Apesar disso, comecei a fazer a prova.
Na semana seguinte, o professor veio dar os resultados. A minha nota e dos dois primeiros colegas foram iguais: 7,5. Eles, felizes da vida, agradeciam a mim. Mas, o pior ainda estava por vir. Havia algo de estranho no semblante do menino que me ameaçara durante a prova. Alguma coisa estava errada. Algumas respostas estavam erradas. A nota dele: 5,5. Recuperação!
E debaixo de toda sorte de impropérios dirigidos à minha pessoa, fui embora correndo tão rapidamente que meus calcanhares encostavam nas nádegas. Minha sorte foram os amigos os quais ajudei: eles me escoltaram até em casa.
Um abraço