sábado, 25 de fevereiro de 2012

Herói ou Vilão?

Nos idos de 1992, havia uma disciplina escolar chamada Educação Moral e Cívica. A grande maioria da turma não dava a devida importância àquele componente curricular, uma vez que o objeto de estudo era sem sentido, pelo menos para adolescentes de 13 ou 14 anos de idade, preocupados com o nascimento de pelos e o surgimento de espinhas.
O problema é que, apesar de subestimada pelos alunos, essa disciplina tinha o mesmo valor das outras na hora de definir a aprovação ou reprovação dos estudantes. E o dia da prova do 4º bimestre chegou. Eu já tinha passado, mas alguns dos meus amigos estavam pendurados.
Durante a aplicação da prova, enquanto eu tentava fazer a minha, era insistentemente interrompido:
- Qual a resposta do 2?, perguntava um deles.
- Ei, diz a resposta do 3, pedia outro.
Quando já ia entregar a minha prova, olhei do lado e vi um dos meus amigos com os olhos marejados. Ele não fizera nada e seria reprovado certamente. Poderia ter virado as costas, mas com um lindo gesto de altruísmo e humanidade, pedi a sua prova e comecei a respondê-la. Porém, para complicar a situação, outro amigo viu e também pediu ajuda. Peguei sua prova e a respondi também. E quando fui levantando para sair, senti algo inesperado. Um aluno com o qual eu nem falava por questões juvenis - times e disputas por namoradas - tocou no meu ombro e disse:
- Faça a minha prova, senão vou falar para o professor. Eu vi você fazendo as provas dos outros.
Eu comecei a tremer. Era um misto de raiva e medo. Apesar disso, comecei a fazer a prova.
Na semana seguinte, o professor veio dar os resultados. A minha nota e dos dois primeiros colegas foram iguais: 7,5. Eles, felizes da vida, agradeciam a mim. Mas, o pior ainda estava por vir. Havia algo de estranho no semblante do menino que me ameaçara durante a prova. Alguma coisa estava errada. Algumas respostas estavam erradas. A nota dele: 5,5. Recuperação!
E debaixo de toda sorte de impropérios dirigidos à minha pessoa, fui embora correndo tão rapidamente que meus calcanhares encostavam nas nádegas. Minha sorte foram os amigos os quais ajudei: eles me escoltaram até em casa.

Um abraço

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Força Tarefa

Junte Sérgio Cabral, governador do RJ, Jacques Wagner, governador da BA, Renato Casagrande, governador do ES, Antonio Anastasia, governador de MG e Sid Gomes, governador do CE. Pronto! Você terá uma Força Tarefa. Mas não é um esquadrão com o intuito de proteger a população contra criminosos. Tudo bem, eles não são policiais, são políticos. Então, quem sabe eles vão se unir para criar políticas públicas visando à melhoria da vida das pessoas! Nada disso. Pelo menos no tocante aos profissionais de educação, a intenção deles é arregimentar apoio para bloquear o que dispõe o Artigo 5º da Lei 11.738/2008, que prevê o reajuste dos professores segundo "O MESMO PERCENTUAL DE CRESCIMENTO DO VALOR ANUAL MÍNIMO POR ALUNO REFERENTE AOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL URBANO, DEFINIDO NACIONALMENTE". Eles querem a correção com base no INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), saindo dos atuais 22% para 6%.
O pior é que, além da iniciativa propriamente dita, o modus operandi desse esquadrão é desprezível. Primeiro, eles procuram o Presidente da Câmara - Marco Maia - para pedir apoio na celeuma e depois negam.
Esses governadores, assim como a maioria dos gestores brasileiros, deveriam buscar maneiras de desonerar a máquina pública tão incrivelmente sobrecarregada com as nomeações, cargos de confiança e afins em vez de usar de esquemas para subverter aquilo que está previsto em lei.

Um Abraço

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Síndromes

Em cerca de dez anos de atuação na Educação, consegui diagnosticar algumas anomalias sociais intrínsecas aos nossos adoráveis alunos. Algumas delas já são uma espécie de epidemia. Outras, porém, são pontuais.Vejamos alguns exemplos:

Síndrome da Desistência: o aluno desiste. Depois, ele desiste de desistir. Mais tarde, ele desiste de desistir de desistir. Mas quando se aproxima o final do ano, ele desiste de desistir de desistir de desistir e reaparece perguntando ao professor se ainda tem chances. O tratamento varia de instituição para instituição. As sérias aplicam uma dose de reprovação. Outras, no entanto, mandam que o professor administre algumas atividades em gotas homeopáticas - afinal, o coitadinho perdeu muitos conteúdos - e o aprovam.

Síndrome da Resolução de Problemas: quem dera fossem problemas de Matemática! Mas não são. Trata-se daquele tipo de aluno que a todo momento sai da sala para "resolver um problema". Dia desses, uma menina saiu para resolver seis problemas num espaço de tempo de quarenta minutos. Ela alcançou uma incrível média de um problema surgido a cada três minutos. Às vezes, até fico preocupado porque esses problemas nunca são resolvidos. E o pior é que eles ainda são adolescentes: o que será deles quando virarem adultos?!

Síndrome da Falta de Respeito: essa já virou epidemia. É incrível como a falta de respeito é uma característica da grande maioria dos estudantes de hoje. Em vez de "você" é "desgraça", em vez de "Sra." é "aquela peste", em vez de "por favor" é "vai t...". Para isso, um bom remédio seria uma atuação mais eficiente das famílias, muito embora nós saibamos que para alguns não há mais cura.

Síndrome do Celular Incontrolável (SCI): é facilmente identificável. O aluno não consegue se desvencilhar um instante de seu aparelho. Sem o celular, ele se sente despido. É como se o equipamento fosse um órgão do seu corpo, sem o qual a vida seria impossível. Mas o pior é que em vez de o indivíduo ficar no controle, quem manda é o aparelho. Eles ficam ouvindo música o tempo todo. Quando o professor, achando exagero, pede para tirar os fones, eles dizem que está desligado. Eles também são viciados em colocar as bolinhas vermelhas no local certo, como se fosse um grande desafio. É altamente contagiante.

EDUCASSÃO!!!

Leiam este relato:

Semana passada, comprei um produto que custou R$ 15,80. Dei à balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos para evitar receber ainda mais moedas. A balconista pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer.
Tentei explicar que ela tinha que me dar R$ 5,00 de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la.
Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender.
Por que estou contando isso?
Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática desde 1950, que foi assim:

1. Ensino de matemática em 1950:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda.
Qual é o lucro?
2. Ensino de matemática em 1970:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00. Qual é o lucro?

3. Ensino de matemática em 1980:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é R$ 80,00.
Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é R$ 80,00.
Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00

5. Ensino de matemática em 2000:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é R$ 80,00.
O lucro é de R$ 20,00.
Está certo?
( )SIM ( ) NÃO

6. Ensino de matemática em 2009:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é R$ 80,00.
Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00.
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00

7. Em 2010 vai ser assim:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é R$ 80,00.
Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00.
(Se você é afro descendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria social não precisa responder).
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00

É cômico, se não fosse trágico! Infelizmente, o governo brasileiro não está preocupado com a qualidade da educação. A preocupação se restringe a números e estatísticas desvinculadas de aspectos qualitativos.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Isso é Eloquência

Todos os professores estavam reunidos. Era o início da Semana Pedagógica - 2011, numa cidade não muito longe daqui. Entre cumprimentos, abraços e sorrisos, o reencontro dos colegas de luta materializava-se.
Ao canto, uma belíssima mesa, cheia de petiscos, bebidas naturais das mais variadas frutas, em direção à qual as pessoas seguiam para deleitar-se.
Mas como os trabalhos deveriam iniciar-se, a mestre de cerimônia logo compôs a mesa. Em seguida, convidou o Secretário de Educação para fazer o discurso de abertura. E ele o fez.
Com uma eloquência objetiva, disse:
- Bom dia a todos e a todas. Quero dar as boas vindas e dizer que o aumento de vocês, que seria em torno de 7% passou para 15% e será pago em março, já com o retroativo. Bom trabalho.
E assim, ele encerrou suas palavras. Lindas, emocionantes e eloquentes palavras. Foi, certamente, um dos discursos mais contundentes e bonitos que já vi. Quem dera, ele pudesse emprestar um pouco dessa eloquência aos seus colegas secretários.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

TIPOS DE PROFESSOR

O ANO LETIVO JÁ COMEÇAR... EIS UMA HOMENAGEM AOS MEUS COLEGAS!


1° Desleixado. É aquele professor (não professora) que parece que acabou de sair de uma pista de skate e veio direto dar aula. Não tá nem aí para a aparência;


2° Trovão. Com esse a escola toda aprende a matéria. Parece que está usando um megafone para dar aula;


3° Enrolão. Leva a aula na base do “embromômetro”. Se você não pesquisar por conta própria, vai se ferrar no futuro;


4° Chato. Todo curso tem que ter um professor chato. Ninguém gosta dele. Normalmente é o cara que no final todo curso todo mundo tem que admitir que aprendeu muito com ele.   
   
5° Legal. Esse tipo é melhor tomar cuidado! Ele é amigo de todo mundo, mas na hora de avaliar não dá moleza prá ninguém! É melhor estudar para a prova ou vai ser reprovado;   
   
6° Show. Esse é muito parecido com o especialista em didática. A diferença é que o cara é simplesmente um artista. Dá aula como se estivesse representando uma peça de Shakespeare;   
   
7° Bonzinho. Não confunda com o legal. Esse todo mundo adora! Você nunca vai ser reprovado com ele. Mas cuidado! Se você provocá-lo ele vira uma fera e aí seu ano já era;   
   
8° Mau. É diferente do chato. É arrogante e acredita que sabe mais que todo mundo. Com esse você pode se matar de estudar que nunca vai tirar dez;   
   
9° Modelo. Esse a mulherada adora. O cara é boa pinta (e sabe disso). Então fica fazendo charminho para as gatas. Os homens que danem-se. Aqui vale uma observação: É difícil encontrar professora desse tipo, mas têm algumas por aí;


10° Sério. Esse é diferente do mau e do chato. Na aula dele o silêncio reina. E se alguém começa a conversar ele já quer saber se o assunto tem a ver com a matéria;  
  
11° Nerd. Sabe muito, mas é péssimo em comunicação;   
  
12° Atualizado. Esse está por dentro de tudo que acontece e muitas vezes passa a aula toda falando de assuntos atuais que não tem nada a ver com a matéria. Você aprende de tudo, menos o conteúdo;  
  
13° Antigo. O famoso dinossauro(a). Saudosista, fica toda hora citando casos da época que você nem havia nascido e achando que você está interessado;  
  
14° Inteligente. Essa espécie tem bastante. Ai de você se for meio burrinho. Esse fala meia palavra e você tem que saber o resto se não fica boiando na matéria;  
  
15° Maluco. Toda escola tem pelo menos um. O cara é doidão, mas é muito inteligente. Quase sempre é o professor mais popular entre os alunos;  
  
16° Fala mansa. Esse(a) fala baixinho. Não está nem aí com a bagunça. Se você quer aprender terá que sentar bem próximo para ouvir o que ele(a) fala;


17°Comunicativo demais. Não sabe quase nada, mas é especialista em comunicação;   
  
18° Humorista. Vive fazendo piadinha sem graça durante a aula. Até para te reprovar ele tem uma piadinha na manga: ” Eu falei para estudar e não estudou…se ferrou!kkkkk.”;  
  
19° Empático. Esse vive falando que já foi aluno, já passou por isso, mas que infelizmente ele precisa dar nota, ou seja, ele te reprova e você ainda agradece;  
  
20° Professor aluno: - Olha pessoal, eu não estou aqui para ensinar. Estou aqui para aprender com vocês!? Aí você pensa: Então vou querer uma parte do seu salário!.  
  
21° Político; interesseiro. Este é bonzinho quase o ano inteiro, nunca dá prova, a gente nunca participa das aulas e mesmo assim nossa nota varia de 8 a 10, nunca menos, mas quando chega lá pra agosto, setembro o santinho e a propaganda eleitoral corre solta na sala de aula, depois da eleição a nossa decepção, o professor perdeu, bomba! Prova surpresa!!!  
  
22° Professor DJ (Pilantrão), especialista em ‘remixar’ o pouco conhecimento que tem pra ficar com cara de novidade.


UM ABRAÇO

Ô piso chorado... Professor sofre!!!!!

"A educação é importante", "Precisamos investir em educação", "O futuro do Brasil depende da qualidade da educação pública". Falácia! Quando, evidentemente, tais assertivas partem da boca de políticos. Isso porque boa parte deles falam em investimentos maciços na educação, mas na hora de a onça beber água, eles inventam alguma coisa. São ADIs (ações diretas de incostitucionalidade), menções ao Limite Prudencial da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). São sobremaneira ardilosos que usam a lei para contrariar a lei!
A mais nova manobra de alguns parlamentares é tentar desvincular a correção do piso do valor do custo-aluno. Ora, a lei 11.708/08 garante a variação do piso salarial de professores de acordo com o valor  do custo-aluno calculado pelo FUNDEB e é por esse índice que todos devemos lutar. De acordo com a CNTE, o valor atual do piso é (ou deveria ser) de R$ 1.937,16 para jornada de trabalho de 40h semanais. Entretanto, estamos longe disso. E quanto mais tácitos e inertes ficarmos, essa distância tende a aumentar. A seguir postei o link de um vídeo com uma entrevista com a dep. Fátima Bezerra acerca deste tema. Assistam e formem suas convicções.

Um abraço

http://www.youtube.com/watch?v=FdTa9wJxzcA&feature=player_embedded