Ainda na primeira metade dos anos 2000, eu comecei a lecionar no ensino médio. A princípio, isso resultou numa combinação explosiva, quiçá nitroglicerínica, entre inexperiência e hormônios à flor da pele. O deslumbramento com algumas meninas deixava o lado profissional em segundo plano. E como "quem procura, acha", eu achei.
Achei muitas meninas simpáticas, algumas bonitas e duas lindas sobre as quais coloquei os olhos. Nos dias seguintes, busquei informações sobre elas. Fiquei sabendo que uma delas tinha namorado, mas a outra estava solteira. Incentivado pela curiosidade, investiguei sua vida e descobri seu endereço, seu CPF, seu tipo sanguíneo, seu time de coração, sua cor preferida, entre outros detalhes importantes, além da sua idade. Àquela altura, a diferença de idade - eu, 24 e ela, 16 - não poderia representar um problema. Poderia? Bem, "como quem está na chuva é para se molhar", fui verificar.
Um dia, então, durante uma festa da escola, ela me chamou para dançar. Meu estilo de dança era o estilo "pilastra de concreto"¹. Acho que ela gostou. E música vai, música vem, eu a beijei. Naturalmente, depois de alguns dias, resolvemos engatar um namoro: esse foi o problema. A menina revelou-se muito apressada (se é que vocês me entendem!) e as coisas começaram a ficar sérias. De um lado, a vontade de aproveitar a chance. Do outro, o senso de responsabilidade. Eu pensava: qual dos dois é o mais forte?
Depois de alguns dias, concluí: aquele que eu alimentar mais. Era isso. Felizmente, eu decidi recuar e terminei o namoro da maneira mais cuidadosa possível. Tudo parecia ter ficado bem. Entretanto, nos dias subsequentes, a menina não veio à aula. Uma, duas, três semanas e nada. Todos perguntando por ela. Os boatos correndo a escola à boca miúda. Ligações não atendidas, mensagens não respondidas. Tentativas em vão de falar com ela.
Para piorar o cenário, a diretora da escola me chamou para conversar. Eu expliquei a situação, mas saí da sala da direção muito preocupado. Afinal, uma eventual desistência da aluna entraria na minha conta e, sinceramente, uma das piores coisas da vida de um professor é saber que alguém abandonou a sala de aula por sua culpa. A partir desse momento, criei uma força tarefa para trazê-la de volta à escola. Arquitetei um plano perfeito. Convenci sua amiga a marcar um encontro com ela, de modo que eu, sorrateiramente, pudesse aparecer, como os heróis de filmes fazem. Assim aconteceu. Quase que à força ela enfim me ouviu. Foram horas de um intenso monólogo, explicações e muita argumentação. Ela aceitou. Eu tinha conseguido. Tinha convencido pelo cansaço. Ela afirmou que voltaria às aulas naquela semana e eu retirei das costas um piano enorme sobre o qual encontrava-se deitado um elefante branco.
No dia seguinte ao nosso encontro - que ocorrera num domingo - voltei a conversar com a diretora. Ela me disse: "onde se ganha o pão, não se come a carne" e saiu, com um sorriso irônico, emblemático. Na hora, eu não entendi. Mas, analisando toda a situação, aquelas palavras caíram como um luva. Eu aprendi isso algum tempo depois e como não sou vegetariano, ainda tive tempo de provar alguns pedacinhos de carne...
¹ Estilo de dança contemporâneo, criado por mim, e que consiste em ficar parado, numa posição perpendicular ao solo.
Um abraço!
vixe acho que o estilo de dança do meu esposo e pior que o seu kkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirEntão ele é dos meus!!!!
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