sábado, 26 de outubro de 2013

A sala de aula é um ambiente extremamente heterogêneo. De um lado, estão aqueles alunos em estado de inércia, que são incapazes de questionar, de problematizar, de discordar do professor ainda que este afirme que as paredes da escola são feitas de ovos, farinha de trigo e um pouco de canela para dar um sabor especial. De outro, existem alunos curiosos, irrequietos, que sempre estão em busca dos porquês. Pois bem, um dia uma aluna me interrompeu para fazer um questionamento muito pertinente:
- "Professor, eu gostaria de saber o porquê de não conseguir aprender nada de Inglês, sendo que já estou na 2ª série do ensino médio!"
Naquele momento, confesso que fui pego de surpresa. Não esperava aquela pergunta. E, como não tinha uma resposta pronta, saí pela tangente começando a elogiar a menina:
- "Parabéns pela pergunta. É isso o que vocês devem fazer! Perguntar, indagar."
Parece pouco, mas esse foi o tempo suficiente para eu formular uma resposta, no mínimo, convincente.
- "Você quer aprender, você precisa aprender ou seria bom se você aprendesse Inglês?", repliquei.
- "Quero aprender!", respondeu enfaticamente.
- "Diga-me", continuei, "há quantos anos você estuda Inglês?"
- "Há uns seis anos", respondeu a aluna.
- "E quantas palavras você sabe em Inglês? Pode ser uma estimativa", completei.
- "Acho que umas vinte."
- "Bom, então vamos fazer uma conta rápida. Você estuda Inglês há seis anos e sabe cerca de vinte palavras. Isso significa que você está aprendendo o vocabulário numa impressionante velocidade de três palavras por ano. Partindo do pressuposto que são necessárias cerca de três mil palavras para você se comunicar perfeitamente em Inglês, você precisará ser uma espécie de Matusalém, ou seja, viver cerca de mil anos. Será que você quer realmente aprender?"
A turma ficou em silêncio. A menina olhou para mim, desconfiada. Eu tinha sido muito objetivo e pragmático. Com um pouco de sentimento de culpa, expliquei para ela que todos os dias eu precisava pegar um dicionário para aprender novas palavras e que sem acúmulo de vocabulário ninguém jamais poderia colocar em prática a fala em uma determinada língua.
Ela percebeu que eu tinha razão. Depois da aula, ela me procurou e conversamos muito acerca disso. Expliquei que o estudo contínuo e sistemático é necessário para quem quer aprender algo e isso é válido para qualquer coisa: matemática, falar outro idioma, andar de bicicleta ou até mesmo fazer um bolo de ovos com canela.


Um abraço!


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