quinta-feira, 4 de junho de 2015

- Charlie, você está aí?
Foi com essa pergunta aparentemente descontextualizada e desconexa que o silêncio, jamais percebido na história da humanidade das minhas aulas naquela turma, quebrou-se. Não bastasse o ineditismo do silêncio, a atmosfera estava definitivamente estranha. Um grupo de alunos sentados em volta de uma mesinha, em círculo, com um caderno aberto talvez fosse a explicação. Na folha do caderno não havia conteúdo, mas quatro quadrantes delimitados e sobre a interseção das linhas, uma caneta meticulosamente equilibrada sobre um lápis.
- Mas o que danado é isso?, perguntei. Não obtendo resposta, fui averiguar. Ao aproximar-me do grupo, uma sucessão de acontecimentos sombrios e horripilantes iniciou-se.
Primeiro, um menino começou a revirar os olhos e desmaiou, o que causou grande alvoroço e corre-corre. Em seguida, a porta da sala de aula começou a abrir e fechar cada vez em intervalos de tempo menores. Cadeiras começaram a flutuar pela sala em forma de espiral e, à medida que giravam, mudavam de cor (eram azuis, depois vermelhas, depois brancas, depois amarelas...). O ventilador parou subitamente e começou a girar em sentido contrário, de modo que o vento, em vez de descer, fazia uma curva e subia. Mas o mais impressionante foi o que aconteceu a seguir. De repente, as letras que eu mesmo havia escrito na lousa começaram a cair. Eu as pegava do chão e as colocava de volta, mas elas caíam novamente: eu pegava as letras do chão, colocava-as no quadro e eles caíam novamente!!! Caíram tanto que chegaram a danificar o piso da sala. Acho que foi o O, pois é mais gordinho.
Confesso que a partir daí não vi mais nada. Minha preocupação era recolocar as letras no quadro. Quando terminei, tudo tinha voltado ao normal. Os alunos, incrédulos, não sabiam o que pensar.
E nem eu, ao perceber que muitos alunos acreditaram em uma história absurda dessas! Isso mostra como nossos adolescentes são influenciáveis por coisas que não fazem o menor sentido. Seria muito mais fácil para nós, professores, se eles acreditassem quando nós dizemos que a soma dos ângulos internos do triângulo é 180°, ou que o sujeito é o ser que pratica alguma ação ou sobre quem se declara algo, ou ainda que reprodução humana e intercurso sexual são coisas distintas.
É preciso termos cuidado com o que lemos, ouvimos, vemos e falamos. Cuidado com os locais onde fazemos nossas pesquisas. É preciso usarmos ferramentas fundamentais como a Internet com equilíbrio. Do contrário, nós estaremos fadados a ser uma sociedade cada vez manipulável, dado o nível de alienação ao qual estamos chegando.

Um abraço! 

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