sábado, 8 de agosto de 2015

No último dia 02 de Junho de 2015, foram aplicadas as provas da primeira fase da OBMEP - Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas. A princípio, trata-se de uma avaliação diagnóstica cujo objetivo principal é verificar o nível de conhecimento lógico-matemático dos alunos, além de proporcionar àqueles que se destacarem a chance de receber bolsas de estudo e de iniciação à pesquisa e, até mesmo, de ocupar os bancos de instituições de ensino superior de renome internacional. O grande problema é que a esmagadora maioria dos alunos não consegue perceber a importância  dessa avaliação e, ano após ano, a aplicação dessa prova tem-se tornado uma tarefa sofrível.
Em que pesem a qualidade do material, a ampla divulgação nos meios de comunicação e a abordagem multidisciplinar das questões, o interesse dos alunos é irrisório. Como se não bastasse isso, quem aplica as avaliações, invariavelmente é submetido a uma espécie de tortura mental com potencial de deixar sequelas psicológicas pelo resto da vida.
Na fatídica data supracitada, eu fui encaminhado para uma turma de Ensino Médio, onde tive a oportunidade - oportunidade é força de expressão - de aplicar as provas. Inicialmente, como é de praxe, fui ler e explicar para os alunos as orientações contidas no caderno de provas. Nem bem li a primeira, um aluno, indignado, levantou-se e em voz arrogante, interrompeu-me:
- Professor, o senhor está achando que nós somos burros?!?! Nós já sabemos disso. Não precisa dizer mais, não. Todo ano é a mesma coisa. A gente já sabe!(grifo meu, pois as concordâncias não estiveram nem perto de ser observadas pelo falante).
Apesar desse protesto em voz de trovão, continuei a leitura e fiz os esclarecimentos devidos. Pouco tempo depois, uma menina disse:
- Professor, esses quadrinhos "é" pra botar a data de nascimento?
Eu respondi com uma pergunta:
- O que diz aí?
Ela disse:
- Data de nascimento!
Respondi:
- Então é provável que seja!
Quando finalmente eles decidiram começar a prova, eu resolvi sentar um pouco e, como amante da Matemática, fui tentar resolver algumas questões. No mesmo instante em que terminei de ler o enunciado da questão 1, vários alunos levantaram seus braços, dizendo que já tinham terminado. Nem cinco minutos haviam se passado. Mal havia dado tempo de o diabo esfregar os olhos!
- Um cara desses é um gênio!, pensei.
A partir daí, a minha missão era tentar convencê-los de que só poderiam entregar a prova depois de uma hora. Missão árdua, já que todos haviam lido cuidadosamente os enunciados das questões, feito os cálculos, marcado as alternativas corretas, preenchido o cartão-resposta, enfim, "concluído" a avaliação numa incrível velocidade de duas questões por minuto. Em determinado momento, uma menina disse:
- Professor, eu não sei minha data de nascimento! Só sei que eu tenho 16. O senhor não saberia?
Eu respondi:
- Eu, não! Como é que vou saber?
Ela retrucou:
- O senhor não é professor? Então deveria saber!
Depois de tudo, enquanto organizava as avaliações e os cartões-resposta, comecei a perceber uma coisa interessante: lembram do menino que protestou no início da aplicação da prova? Pois bem, ele colocou o nome no espaço destinado ao endereço, assinou no local destinado ao diretor da escola e perguntou se não haveria um local para colocar as digitais e, ainda, o que "danado é e-mail."
Foi assim, com essa indagação pertinente e quase filosófica, que venci mais uma aplicação da OBMEP.

Um abraço!

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