Desde a minha época pueril, eu sempre acreditei que o
cúmulo da distração era comer o guardanapo e limpar a boca com o bife.
Entretanto, no cotidiano escolar sempre é possível encontrar algum fato que
desconstrua esse tipo de verdade universal.
Alguns dias atrás, um aluno, ao finalizar uma
atividade, perguntou o meu nome para colocar no cabeçalho. Eu, surpreso com a indagação, repassei a informação solicitada. Porém, em vez de dizer meu nome,
por considerar um período de cinco meses suficiente para se aprender o nome de
alguém, resolvi fazer um teste:
- Roberto, eu disse.
O menino não titubeou. Ele deu uma olhadela na minha
direção, escreveu o nome e entregou a atividade.
Mesmo vendo, custei a acreditar. Era inexplicável o
fato de aquele aluno não saber o meu nome. Teria sido uma brincadeira? Seria
possível que um aluno não soubesse o nome de seu professor depois de cinco
meses de interação? Um mundo de possibilidades se abriu. Primeiro, eu
imaginei que o menino não consideraria importante guardar nomes, hipótese logo
afastada porque o indivíduo sabia não apenas o nome do primeiro-ministro inglês
durante a segunda guerra mundial, como também que o nome verdadeiro de Pablo Neruda
é Ricardo Eliecer Neftalí Reyes
Basoalto e, de quebra, lembrava o nome do segundo colocado na prova de levantamento de peso das olimpíadas de Londres.
Outra possibilidade, digamos fisiológica, seria uma
eventual falha do sistema auditivo do aluno que o impedia de ouvir muitas
coisas e, entre elas, o meu nome. Porém, consultando colegas, fiquei sabendo
que o menino era capaz de ouvir o zumbido de um pernilongo ao lado de um trio elétrico no meio uma micareta.
Finalmente, cheguei à conclusão mais plausível: a
síndrome da distração incontrolável. Trata-se de uma síndrome silenciosa que
afeta boa parte dos adolescentes do séc. XXI e que deixa o indivíduo em estado
de incapacidade de perceber as coisas mais óbvias. Uma pessoa dessas pode,
tomando conta de duas tartaruguinhas, deixar uma delas fugir ou usar o dicionário de Inglês na prova de Matemática.
A fim de esclarecer a situação, procurei o menino
alguns dias depois:
- Rapaz, você trocou meu nome por “Roberto” no
trabalho...
- Professor, eu estava na dúvida. Perguntei o seu
nome e o senhor disse que era “Roberto”. Então, coloquei. Se o senhor disse, é
porque sabe mais do que eu!
A partir dessa explicação, tudo parecia estar
resolvido. Parecia. Quando fui saindo, o menino perguntou:
- Professor, como é mesmo o seu nome?
Forte abraço!