sábado, 26 de março de 2016

UMA AULA SÃO VÁRIAS AULAS

Uma aula, independentemente da disciplina trabalhada, são várias aulas. Conteúdos programáticos misturam-se com questões cotidianas, muitos temas ultrapassam as barreiras de uma determinada área do saber e abordagens diversas sobre um mesmo tema são comuns. E o mais importante é que os alunos participam desse momento, saibam eles ou não. Nesse sentido, os professores precisam estar atentos para não perder o fio da meada. 
Nas últimas semanas, eu precisei, em vários momentos, interromper a minha aula para tratar de temas extrínsecos ao meu planejamento, mas o fiz com todo o afinco. Afinal, é sempre importante contextualizar.
Primeiro, estava indicando a página do livro, quando ouvi um aluno perguntando a outro:
- Cospe-cospe veio?
- Veio não!
Perguntei do que se tratava e um deles disse que essa era a forma como eles se referiam a um determinado professor. Segundo eles, enquanto o referido mestre fala, secreções salivares, também conhecidas como "cuspe", descem em grandes quantidades pelo recanto de sua boca, sendo necessário, às vezes, o uso de uma capa de chuva para se manterem secos. Eu disse que aquilo era extremamente deselegante, mas aproveitei para falar sobre uma figura de linguagem chamada Antonomásia (troca de um nome por uma expressão que facilmente identifique alguém, como "Rei do Futebol" para se referir a Pelé). Acredito que eles entenderam.
Outro dia, enquanto explicava, dois alunos conversavam sobre a aventura da noite anterior. Um deles jurava, veementemente, que teria cumprido um percurso de quase 2 quilômetros em dez segundos, de moto, à noite e numa estrada muito sinuosa. Ouvindo aquilo, não resisti e convidei a turma para fazermos os cálculos. Se o aluno percorreu 2km em dez segundos, isso significa que sua velocidade era de 720km/h. Mas como a estrada era sinuosa e escura, todos ficamos com uma leve desconfiança de que ele estava mentindo. Em que pese a falta de um fundo de verdade na história, nós aprendemos a relacionar grandezas e a transformar metros por segundo em quilômetros por hora, além de perceber que mentiras tem pernas curtas e às vezes andam de moto.
Na semana passada, um aluno me perguntou o que era DST. Uma vez mais, eu deixei o conteúdo em segundo plano e fui explicar ao garoto. Numa cena inédita, todos prestaram atenção ao que este professor dizia. Ao final da explicação, eu perguntei se alguém gostaria de fazer um questionamento. Mais que depressa um deles perguntou: 
- Professor, pode tomar banho depois de fazer sexo? 
- Pode, caso haja água.
Nesse mesmo dia, ainda, aconteceu uma coisa curiosa. Enquanto eu fazia a chamada, percebi um garoto que tinha encontrado em outra turma. Logo, perguntei:
- Menino, você não estava em outra sala?
- Estava, professor, mas o diretor mandou eu voltar pra trás, aí eu voltei de volta!
Bem, a partir daquele instante, esqueci meu planejamento e fui falar sobre Pleonasmo...

Um Abraço!

2 comentários:

  1. Parabéns,Danilo,excelente texto! Você transforma a docência em literatura e dá para sentir nas palavras o quanto és apaixonado pela educação!

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    1. Obrigado, Lucas, é uma honra tê-lo como leitor dos meus textos! Um abraço!

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