sábado, 31 de março de 2012

PERFUME FRANCÊS

Durante quase 12 anos de sala de aula, eu já testemunhei muitas iniciativas, digamos, politicamente incorretas tomadas pelos alunos. Palavras do mais baixo calão transformadas em pronomes de tratamento, cadeiras e mesas usadas como objetos diretos - para acertar alguém, desinteresse crescendo em progressão geométrica. Houve também um caso em que uma menina empurrou a cabeça da colega dentro da privada, talvez para descobrir como se mede o volume de um sólido geométrico irregular. Contudo, isso não foi o mais grave.
Certo dia, depois que a sirene da escola tocou, decretando o término do intervalo, eu voltei para a sala. Não era qualquer sala! Era aquela! Aquela em que de dez alunos (meninos), oito bagunçavam muito e dois eram mal comportados. E como de costume, os mais responsáveis iam entrando na sala enquanto os outros ainda estavam terminando sua partida de futebol ou sei-lá-o-quê. 
Foi então que um deles, usando de toda a sua crueldade e imaginação, escondeu-se atrás da porta, todo suado, e com um gesto maquiavélico, passou a mão nas axilas (aquilo não eram axilas, eram sovacos) e esperou que os amigos entrassem para iniciar seu ataque: passar a mão, gosmenta e perfumada, no nariz do colegas!
O primeiro a experimentar aqueles odores tóxicos, saiu sem fôlego. O segundo, desmaiou. O terceiro, desavisado, foi o que inalou aquela essência por mais tempo e teve que ser socorrido com sintomas de intoxicação e arritmia.
Mas você deve estar se perguntando o que eu, como professor, fiz nessa situação, não é? Bem, quando começava a arrazoar sobre como iria resolver essa problemática, um odor muito forte - parecia uma mistura de crueira, pólvora, queijo suíço e cavalo suado - já afetara meus neurônios e tudo o que fiz foi evacuar a sala, abrir todas as janelas e proibir a entrada das pessoas por, pelo menos, vinte minutos.
Quando você pensa que já viu de tudo, sempre tem alguém com uma invenção nova.

Um Abraço





sexta-feira, 16 de março de 2012

TIPOS DE ALUNO

Alunos Excelentes: espécie em extinção, apesar de ainda haver alguns exemplares (graças a Deus); são alunos bem comportados, respeitosos, atenciosos e, sobretudo, produtivos. Para esse tipo de aluno, o professor não precisa inventar técnicas mirabolantes - as famosas "estratégias" tão prontamente defendidas e nunca apontadas pelos profissionais de suporte pedagógico - porque eles estão dispostos a ser o sujeito de sua aprendizagem, como tanto defende o grande Paulo Freire. Esse tipo corresponde a cerca de 5% do total de alunos.
Alunos Medianos: representam a grande maioria. Entretanto, eles não se encaixam nessa modalidade por deficiência cognitiva. Pelo contrário, eles tem muita capacidade. O que acontece é que eles colocam os estudos entre as últimas posições da sua lista de prioridades. Assim, eles desenvolvem talentos para muitas outras atividades, exceto as escolares. São aproximadamente 40% do total.
Alunos Bonzinhos: aquele tipo de aluno que fica a aula toda bem quietinho, sem falar quase nada. Seria ótimo caso os professores quisessem dar aula para estátuas! Além disso, eles não questionam, não perguntam, não respondem, não dizem que "sim" nem que "não". E se o professor escrever no quadro que o Brasil fica na Europa, ele, taciturno, anotará no caderno. Cerca de 5% dos alunos.
Alunos Ruins: também conhecidos como "caningados", vão para a sala de aula com um único intuito: tirar o professor do sério! Chamam palavrões, falam alto, querem sair e entrar na sala ao seu bel-prazer e adoram chamar a atenção. Apesar disso, a culpa é sempre do professor. Como assim? Bem, de acordo com dez em cada dez teóricos da área da educação, esses comportamentos podem ser transformados à medida que os professores passem a tratar seus alunos com afetividade. Ainda bem que teoria e prática, apesar de serem aspectos complementares de um processo, são profundamente diferentes. Esses alunos compreendem cerca de 25% do total.
Alunos Péssimos: são parecidos com os ruins, mas tem uma diferença fundamental: além de fazer tudo o que os alunos ruins fazem, os péssimos podem ser violentos. Foi o que ocorreu uma vez com uma professora amiga minha. Ela quase apanhou na sala de aula porque chamou o aluno de "criatura", sem nenhuma intenção de desrespeitá-lo. Foi apenas um vocativo! 15% do total de alunos se enquadram nesse perfil, infelizmente.
Alunos Não-tem-quem-aguente: esses não tem quem aguente! São facilmente reconhecíveis pois apresentam duas características básicas: em primeiro lugar, eles acham muito engraçados ser chatos. Fazem piadas de tudo e nunca respondem com seriedade. Tentam deixar o professor sem graça o tempo todo. A outra característica é que seus pais já fizeram tal qual Pôncio Pilatos - lavaram as mãos - e dizem na escola: "eu não tenho mais o que fazer com esse menino." Os pais não tem, mas os professores tem que ter! São aproximadamente 10% dos alunos.


Um abraço

quarta-feira, 14 de março de 2012



Essa é a tabela de vencimentos/carga horária dos profissionais da educação estado a estado. Observe quem cumpre e quem não cumpre o que a lei determina.

segunda-feira, 12 de março de 2012

QUE ESPÉCIE DE GESTOR VOCÊ TEM?

Depois que o MEC - Ministério da Educação e Cultura - divulgou oficialmente o novo valor do Piso Nacional do Magistério, surgiram duas espécies de gestores: uma jurando de pés juntos não ter condições financeiras de cumprir a lei e outra assoberbando-se e proclamando aos quatro cantos o pagamento do piso.
Em relação à primeira espécie, não há muito o que dizer, mas muito a lamentar. São gestores cujo interesse pela Educação não passa de dissimulação, de sofismas. A importância que este tipo de gestor dá à Educação restringe-se a saber o montante de recursos destinados a esta área. E aí surge o problema. Os governantes que alegam não ter condições de cumprir a lei podem pedir uma espécie de subsídio ao governo federal. Para tanto, eles precisam comprovar a falta de recursos, mas, curiosamente, nenhum ente federativo - Estado ou Município - conseguiu isso desde 2008, quando a lei foi promulgada. Dessa forma, não precisa ser um expert em Matemática Financeira e nem um Sherlock Holmes para concluir que ou existe dinheiro suficiente SIM para pagar aos professores ou o dinheiro exclusivo do FUNDEB é desviado para outras demandas, o que, claro, é ilegal.
No que se refere ao segundo tipo, tem-se a sensação de que nem tudo está perdido. Essa espécie de gestor engrandece sua administração com o mero cumprimento da lei. Ora, o cidadão de bem não precisa se orgulhar de cumprir as leis. É seu dever! Mas o pior é que de acordo com o Art. 2º da Lei 11.738/2008, "O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica será de R$ 950,00¹ (novecentos e cinqüenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal...". Isso significa que apenas os professores cuja formação é em nível médio estão recebendo o piso. Ou, ainda, que nenhum gestor está pagando, de fato, o piso para os professores com formação em nível superior. Na melhor das hipóteses, eles estão pagando o contrapiso do magistério uma vez que o valor fixado pelo MEC diz respeito à formação em nível médio. É bem verdade que essa defasagem é consequência de uma somatória cruel entre a falta de clareza da relatora da Lei e a interpretação propositadamente equivocada dos gestores. Mas o cúmulo do absurdo e do descaso pela educação pode ser testemunhado pelos professores gaúchos. Naquele estado existe uma espécie não-catalogada de gestor. É o resultado do cruzamento entre o ex-ministro da Educação, Tarso Genro e o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro. É um monstro! Talvez resquício da era Mesozoica! Uma aberração do executivo dos pampas que acha certo continuar pagando vergonhosos R$ 791,00 de piso para os profissionais da Educação.
A esperança dos professores, estudantes e dos brasileiros de uma forma geral é que, em meio à essa desorganização institucional e antidemocrática possa um dia surgir uma nova espécie de gestor: uma verdadeiramente comprometida com a Educação.


Um abraço


¹ Esse valor é referente ao ano de 2009.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O DIAGNÓSTICO EXISTE, MAS O TRATAMENTO...

Se existe um aspecto no qual a educação pública brasileira evoluiu, isso ocorreu no sistema de avaliação da qualidade do ensino. ENADE, ENEM, PROVINHA BRASIL, entre outros, constituem uma importante ferramenta no tocante à aquisição de dados, que por sua vez, oferecem um visão ampla e empírica da situação do ensino público no Brasil. Por que, então, a qualidade da educação cumpre uma trajetória tão demasiadamente descendente ao longo dos anos? A resposta é simples: as autoridades tem o diagnóstico, mas não conseguem decidir o tratamento.
Seja por falta de vontade política, seja por descaso histórico e institucional pela educação, as ações promovidas pelo Estado nunca são suficientes para mudar a conjuntura em que se encontra a educação.
Seria um caso raro de incompetência congênita? Absolutamente. Pois se isso fosse verdade, a mera substituição dos mandatários resolveria o assunto. A questão é mais complexa e está relacionada à maneira como o governo vê a educação - um balcão de negócios de aporte financeiro gigantesco.
Uma saída consistente é a federalização do ensino. Em primeiro lugar porque as instituições com melhores resultados são os Institutos Federais. Além disso, a aplicação e a fiscalização dos recursos seriam atribuições federais, o que contribuiria para melhorar as instalações físicas das escolas e garantiria a tão desejada valorização dos profissionais dessa área.
Enquanto o Estado não parar de se preocupar apenas com números e decidir viabilizar mudanças profundas na educação pública, nós estamos fadados a ter uma pseudoeducação, em que os alunos fingem que aprendem, os professores fingem que ensinam e o governo finge que investe.

Um abraço