Em 1988, eu estava na 4ª série do primeiro grau (5º ano do ensino fundamental, atualmente). Na minha turma, havia um sujeito malvado, um canalha, uma espécie de Joey Caruso (daquele seriado praticamente inédito na TV Todo Mundo Odeia o Chris). O garoto praticava toda sorte de traquinagem. Pegava a bola que os meninos levavam para se divertir na hora do intervalo; colocava goma de mascar no cabelo das meninas; batia nos meninos; tomava e comia aquele lanche sensacional - salgadinho com din-din - e ainda ficava rindo das vítimas. Eram tempos difíceis. Mas como nada é tão ruim que não se possa piorar, eu era um dos alvos principais. Quase todo santo dia, ele me obrigava a sentar em cadeiras diferentes e isso me irritava muito, pois eu gostava de ficar na frente da sala. Eu tinha muita raiva, mas tinha mais medo ainda.
Um dia, entretanto, minha mãe pediu a meu irmão para ir comprar o pão. Eu o acompanhei até a padaria e se você está achando que eu encontrei o menino da minha turma na padaria, você acertou. Ele estava lá!
Eu olhei para meu irmão - que já era um galalau forte - e comecei a contar as coisas que aquele indivíduo aprontava na sala. Meu irmão olhou para mim e disse:
- Vai lá, dá umas porradas nele. Se ele vier bater em você, eu te defendo.
Confesso que fiquei balançado. A proposta era muito tentadora. E sem avaliar as consequências, fui até ele e comecei a provocar, enquanto meu irmão ficou escondido perto da porta.
- Ei, vem tirar onda comigo agora. Eu te quebro no meio. Tu tá achando que eu tenho medo de você? Acreditem ou não, fui eu quem disse isso.
Quando ele se virou para mim e ameaçou vir na minha direção, eu reagi - fechei os olhos -e meu irmão surgiu do nada. O menino, claro, baixou a cabeça e foi saindo de mansinho ouvindo uma série de palavras as quais não serão publicadas aqui em detrimento de seu teor de baixo calão. Eu fiquei extremamente aliviado, como se tivera passado por um catarse (purificação definida por Aristóteles em seu livro Poética). O grande problema é que as coisas não tinham acabado por ali. No dia seguinte, haveria aula e eu só me dei conta disso quando estava voltando para casa.
Foi uma noite horrível. Não preguei os olhos. Para onde eu olhava, eu via aquele rosto encolerizado. De manhã, saí mais cedo que o habitual. Convenci o vigilante para entrar logo (dentro da escola eu estaria mais seguro, pensei) e fiquei na sala de aula aguardando.
De repente, eis que surge o menino. Segurando um chicote de goiabeira, ele golpeou a minha mesa. Eu, tal qual faria um soldado americano desarmado ao encontrar um soldado vietnamita armado até os dentes no meio da guerra, baixei a cabeça e esperei o pior. Ele aproximou-se e disse:
- Repita agora o que você estava falando ontem! E olhando fixamente para mim, ele gritou um monte de palavrão. Por incrível que pareça, essa foi a minha sorte: sua mãe era professora na escola e ao ouvir aqueles gritos, ela reconheceu imediatamente a voz do filho. Ela entrou na sala e mandou que o menino parasse. Depois disso, ela o chamou pra conversar e nunca mais o garoto voltou a me perturbar. Até hoje eu me pergunto: "o que será que ela disse a ele que o fez mudar de comportamento?". Como eu nunca encontro uma resposta, prefiro contar que ele ficou com medo de me encarar.
Um abraço
Nenhum comentário:
Postar um comentário